sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sim, nos sentimos perdidos diante da pintura de Gabriela Machado. Por pouco tempo, perdidos. Ou para sempre. As pinceladas, as cores, o empasto e a massa fazem a vez de guias. O espectador é levado a um novo lugar, o qual não se sabe qual é nem se interessa saber. O que interessa é ser levado a esse novo lugar. Nos perdemos no lugar que acreditávamos ser definido para nos encontrarmos no indefinido. Ali, não há o gênio que atinge o gesto pelo transe. Há a mente, que pensa, e o corpo, que pulsa. Do artista e do espectador.

Há também, e fortemente, uma dose de ansiedade. Ansiedade do fazer, da cor, da descoberta, da surpresa. Penso, então, que sua obra é um sacrifício, porém, nesse momento, ainda dessacralizado . Há o risco em virtude da ânsia, mas suas opções são sempre sacrifícios. Um após o outro. Cores que surgem, mas, em razão de um novo gesto ansioso, desaparecem (sacrificam-se); contornos se delineam, e uma nova pincelada, certamente arriscada, deforma e reforma (sacrificam-se). A obra se constrói, então, de sacrifícios sucessivos. A artista renuncia a todo momento àquilo que já estava para se aventurar em algo que não está, nem tampouco é.

Suas pinturas são repletas de vida. Para a pintora, o trabalho “não é para se olhar, mas para se jogar”. Entretanto, tal é a força, que somos sugados, apreendidos, atraídos. Mergulhamos num mar de significados, imagens, formas. A tinta se mistura na tela e não na paleta – se arrisca na tela e não na paleta. Gabriela Machado nos atinge profundamente com seus sacrifícios, com sua paixão. Por sua potência, a pintura, enfim, se sacraliza.


Felipe Abdala

4 comentários:

lu disse...

lindo lindo. só não vi a expo ainda. to indo lá daí faço um comentário decente, rs.

Agnaldo disse...

A obra da Gabriela não agrada o grande público exatamente porque é abstrata e não aparenta domínio da técnica (requisitos que ainda parecem determinantes para o julgamento da qualidade de uma obra por parte do público leigo). São obras difíceis, não produzem um arrebatamento estético, nem uma comoção, e requerem uma investigação mais profunda do fazer artístico e do diálogo com a história da pintura.
Uma forma de "compreender" ou "aceitar" sua pintura é encará-la com respeito e seriedade.
O que a pintura dela me "disse" foi: "Sou uma pintura. Sou o fruto do trabalho de uma pessoa. Não exijo admiração, mas respeito. O mesmo respeito que meu criador me dedicou."

Valquíria disse...

bem, estou visualizando alguns trabaçhos da arte neste momento, mas gostaria de ver pessoalmente, antes de ter um comentario mais serio.MAS Agnaldo não tive experiencia estetica ... mas tem trabalhos que so pessoalmente são capzesde produzir qualquer sentimento nas pessoas.

c. tinôco disse...

acho que o trabalho da gabriela machado me disse assim ó:

"tá vendo, isso de arte contemplativa é uma característica de outro momento. mesmo que você ainda esteja presa a esses padrões sabendo que eles não tem a ver com o que estamos fazendo, eu estou aqui pra você lembrar que a casa da arte é o processo. que a reflexão nem sempre surge no embate com o que é exposto, mas com todos os fatores que possibilitaram sua existência. lembre-se da produção dos anos 60, lembre-se do pollock. se deixe, amplie seu olhar."