sábado, 28 de março de 2009

a obra é o resultado?

Grandeza é uma palavra que em seu sentido literal define a parte mais conhecida trabalho de Vik Muniz. Porém a exposição em cartaz no MAM Rio reúne esta produção em contraposição a trabalhos menores. Esta é talvez mais importante questão trazida por Vik: a escala. Seus trabalhos se dividem em enormes composições e composições pequenas, no entanto, o recurso fotográfico cria uma ilusão da real dimensão desses trabalhos, fazendo com que os pequenos comparados aos grandes, não tenham uma diferença tão grande.

O processo de criação é interessante em seu trabalho. Nos de grandes dimensões, são montadas no chão, imagens gigantes com materiais diversos, onde a imagem só pode ser reconhecida através de um afastamento espacial, ou seja, quando olhadas de uma visão aérea. Através da fotografia da montagem Vik Muniz promove esse reconhecimento. Nos trabalhos menores Vik também utiliza o registro fotográfico como sendo a obra, assim percebemos que apesar de interessante, a questão de seu trabalho não reside no processo e sim no resultado. A obra finalizada é importante, mas o fato de ser mais valorizada que o processo empobrece sua pesquisa.

A terceira característica de seu trabalho, que chama atenção, é a utilização de materiais que não são tradicionalmente reconhecidos como da arte, o que nos remete à arte povera. A escolha desses materiais e o processo utilizado criam a idéia de efemeridade, mas como a obra é o registro do processo, esse valor se perde. A reprodução de importantes obras da história da arte acaba por limitar a obra a uma mera reprodução já que o importante é apenas a imagem. A própria escolha dessas imagens se torna duvidosa.

A exposição como um todo contribui a essa redução (ou afirmação da proposta) do trabalho de Vik Muniz quando estabelece divisões por fases. A cada processo é intitulado um nome, que ao mesmo tempo em que o explica, também o limita, pois todo o significado da obra está ali, não existe entrelinha, não existe imaginação. É nesse sentido que o trabalho perde seu valor artístico, o que não impede a apreciação das questões aqui colocadas, bem como uma reflexão sobre os valores de uma obra de arte e sua presença no circuito de artes.

7 comentários:

Lu disse...

arte pra mim não tem q ser didática. qdo tdo é explicado demais não há espaço para camadas de interpretação...

c. tinôco disse...

acho que arte tem que ser o que é e as pessoas não devem fazer ela ser menos ou mais do que isso. acho que a dúvida é um elemento fundamental na leitura de um trabalho, concordo com você lu, explicação demais limita as possibilidades de leitura.

Agnaldo disse...

O trabalho do Vik se divide em dois: o processo de montagem e a fotografia. A montagem traz o caráter efêmero e a fotografia torna-se o registro permanente.
No entanto, não acho que a proposta dele seja trazer essas questões para o público, mas sim mostrar figuras reconhecíveis e impressionar o público com sua habilidade (técnica) em fazer aquilo.

c. tinôco disse...

também não acho que seja a proposta dele trazer essas questões para o público refletir (e praticamente em nenhum momento a exposição permite isso), mas se elas existem devemos estar atentos a isso. devemos estar atentos para verificar quais são as questões dos trabalhos e em que contribuem, indetendente se gostamos ou não (mesmo que seja difícil... e é).

Valquíria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Valquíria disse...

E quem disse que compreender arte é fácil...
apesar de ser licencianda concordo com vocês a respeito de explicações de mais sobre uma obra ou um artista. Acho que explicar demais uma obra é dimiuila a nada e além disso afirmar que um "leigo" não é capaz de compreender um trabalho sozinho, como se so quem fizesse parte do meio fosse capaz dissso.

c. tinôco disse...

"e além disso afirmar que um "leigo" não é capaz de compreender um trabalho sozinho, como se so quem fizesse parte do meio fosse capaz disso."

muito importante essa sua observação val! parece que às vezes a gente vai se esquecendo disso... que as leituras são abertas, seja para um especialista ou não.