segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Potencial conceitual que se perde na via da auto-didática

Em cartaz na Caixa Cultural, a mostra “Otrebor: A outra imagem – atípicos”, do pintor Roberto Magalhães, oriundo da segunda metade da década de 60, nos dá um panorama de sua obra mais recente – dos desenhos da década de 80 aos trabalhos atuais.
Ali temos um mundo de cores, formas, seres, imagens. Ao mesmo tempo que é figurativo, linear, não busca uma realidade. É uma viagem da imaginação, um quê de surrealismo, de abstracionismo geométrico. Cores quentes sempre fortes. Cores frias quase sempre dissaturadas, grisalhas. Seus temas são um reflexo da ânsia pós-moderna: tecnologia, biologia, tempo, futuro. Em suas imagens vimos Salvador Dalí, Roy Lichtenstein, David Hockney, Franz Ackermann e a arte brasileira dos anos 70 e 80.
Seus desenhos possuem qualidade, e cremos serem melhores que as próprias pinturas. O trabalho que mais nos chamou atenção (e que não lembramos o nome) foi um tratado sobre o nariz. Neste, Magalhães analisa os tipos humanos – arquétipos - através de seus narizes. Algo como uma quiromancia, mas sobre o nariz, ou seja, uma “nasomancia”. Mas sem prever o futuro.
Mas devo dizer que, como um todo, seu trabalho não nos satisfez. Tudo nos pareceu levemente desorganizado. O excesso de idéias que Magalhães imprime em suas telas se torna menos inteligível no momento em que há também excessivas imagens. Era necessário ser mais prolixo conceitualmente sendo mais sintético imageticamente. Mais anos 70 que anos 80.
Diante de sua obra, estamos oniricamente dentro da criação do pintor viajando em suas utopias. Mas nos incomoda o silêncio. Magalhães insere palavras desconhecidas na tela: frutos de sua criação, como um novo dialeto. Mas, também a partir desse recurso não foi possível um aprofundamento maior. Talvez a intenção do artista seja essa: a primazia plástica. Fica a dúvida.
De tudo, o que realmente ficou foi um enorme potencial conceitual-ideológico que é abafado por um desencontro plástico. Magalhães, auto-didata, força um plasticismo desnecessário que cria obstáculos à sua obra. As imagens acabam chamando mais atenção que a idéia, que é relegada a um segundo plano. Não que esta seja mais importante, mas acreditamos que um conceito mais valorizado daria mais densidade à obra, acarretando reflexões igualmente densas. Tornou-se o trabalho superficial. Não por acaso ou preguiça, mas sabemos que por escolha do artista.
Em todo caso, não concordamos com suas escolhas. Auto-didatas se sentem seguros em aventurar-se por novas vias, crendo que continuarão sempre brilhantes. Em Roberto Magalhães, a segurança é tão densa que não deixou espaço para o espectador. Seu trabalho é só um trabalho de arte. Uma arte fechada, por escolha, em que não se entende nem a obra nem a opção do autor por fazê-la dessa forma. Sendo assim, só podemos ansiar por novas aventuras.

3 comentários:

Anônimo disse...

muito bem escrito!
mas ansioso!

tenha mais paciência pra olhar alguma coisa se vc quer realmente criticá-la com categoria! ;)


beijoca!

Anônimo disse...

=)


gostei mais assim!




vc pegou a sensação que eu tive quando falei com ele.

acho que o trabalho fica entre design e pintura, mas um entre mal definido, justamente por esse não querer ser do artista.

mas eu me diverti!
achei engraçado a beça! (um engraçado bom)
e adoro coisas que me fazem rir!



quanto as coisas minhas...
louvo a capacidade dos meus neurônios de se degenerarem.
"deixo tudo assim, não me acanho em ver a idade em mim ... eu gosto é do gasto"
já joguei um monte de coisa assim, bem rápido pra ver se apaga ligeiro! haha =)


bom esse encontro todo!

beijoca!

Agnaldo disse...

Crítica ousada, Felipe, mas com uma linha de raciocínio bem fundamentada. Vi as obras de Roberto Magalhães pelo site http://www.robertomagalhaes.art.br.
A produção dos anos 60 e 70 é mais expressionista, fortemente influenciada pelo misticismo que coincide com a onda mundial de gurus indianos, ácidos e psicodelia da época.
A produção surrealista dos anos 80 e 90 nos remete a Magritte e Dali. A composição de rostos lembra Arcimboldo.
Existe uma inegável coerência em sua obra que define o estilo do artista.
A partir de 2000 surgem as pinturas geométricas, talvez por puro experimentalismo do artista.
Não vi excesso de informação nem conceitual nem pictórica, mas sim, uma temática bem definida.
O artista consegue dar o recado.
Abaraços, continue assim.