sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O fim da história da arte ou Como a obra se abre à experiência

Fico me perguntando sobre a produção artística atual o tempo todo. Sinto falta das teorias que fundamentam as obras. Sinto falta do "historicismo" (na pior concepção do termo), da arte vista como uma sequência de movimentos, todos bem explicados e datados. Fica perfeitamente compreensível, cria o "valor histórico" de que nos fala Argan.
As obras soltas, cada artista fazendo uma coisa diferente, não apontam para uma direção. Fica tudo disperso, sem coerência, às vezes confuso. Sinto falta de um manifesto, da unicidade de pensamento, de um grupo de artistas fechados em torno de uma proposta, de um conceito, de uma estética. Por isso aprecio iniciativas de grupos como Atrocidades Maravilhosas.
Alguém disse que a vida dos artistas interessa mais do que suas obras (confesso, não lembro quem, vou pesquisar). Vasari levou isso ao extremo, com sua queda por Michelangelo, assim como Zola adorava os amigos impressionistas e Roger Fry tinha suas preferências por Cézanne.
Quero deixar claro que não concordo com isso. Não é propriamente a vida do artista que me interessa, mas sua relação com o contexto social em que está inserido, com seus pares e com a vida. Nesse sentido, a práxis gera a estética e torna-se a teoria sobre a qual se fundamentará a história.
Por outro lado, essa produção contemporânea tão diversificada nos dá algo valioso: temos a obra - e apenas ela - nua e crua. A obra aberta, como nunca, às mais variadas interpretações. Não interessa (ou não deveria interessar) se foi produzida por esse ou aquele artista, nem se a "crítica de catálogo" foi escrita por um renomado teórico. A obra fala diretamente ao espectador e se não produz o efeito desejado pelo artista ou crítico, pelo menos vale como experimento.

17 comentários:

Anônimo disse...

a grande questão é: importa quem fez.
portanto, automaticamente, a vida do artista se torna importante.

as coisas justamente existem dentro de um contexto e o contexto inclui quem é a pessoa que executou o gesto e a pessoa existe dentro da vida dela.

entende? se o bush apertar a mão do bin laden não significa a mesma coisa que eu apertar a mão do bin laden... a vida de todos os envolvidos conta, e muito, na analise do gesto.

bom, pelo menos eu vejo assim... =)


bom texto, vcs todos escrevem muito bem!
adorei encontrar o blog de vcs!

Agnaldo disse...

Obrigado por gostar do blog. É um espaço para o exercício de reflexões sobre a arte.

Felipe Abdala disse...

Eu ainda acho muto importante estudar a vida dos artistas. Pode nos ajudar a entender muita coisa. Não da maneira exaustiva como Vasari o fez, mas como uma ferramemta de pesquisa.
Por exemplo, no caso q deu origem a esse artigo, o de Betriz Milhazes, temos q pensar q esse trabalho, como disse, surgiu nas aulas do Charles Watson no Parque Lage. Aulas de processo criativo (e que ainda são aulas extremamente disputadas).
Outro caso: em Daniel Senise, vemos q há muito influência das linhas retas. Daniel é engenheiro e será q não podemos estabelecer uma relação? E a lista de exemplos segue infinita.
Não podemos reduzir a obra isso, é lógico. Como disse, acho q funcionaria como ferramenta. É mais uma informação.
Em relação ao contexto, também temos q ter cuidado. Hauser, por exemplo, escreve quase que um livro de história antes de fazer uma análise artística. Isso é reduzir a obra de arte mais uma vez. Castrá-la de significados.
Acho que os excessos nos são sempre atraentes, pois dão menos trabalho. Fazer uma História da Arte baseada só na vida do artista ou em seu contexto histórico-social é relativamente fácil. É mais difícil ficar três horas olhando pra obra esperando ela nos dizer algo. Por outro lado, essa análise isolada também tem seus descaminhos já que a obra não é uma construção imune a tudo e todos.
Pra mim, a via da moderação me parece mais correta (ainda). Vamos usar um pouco de tudo, sem excessos. Por isso tenho gostado tanto do Argan.

Anônimo disse...

bom, eu concordo com o felipe.
acho que a vida do artista é importante sim, mas sem excessos.

nas artes, tudo está muito interligado. o processo de criação está ligado com as vivências do artista, suas experiências... eu acho que isso é um pouco difícil de ficar explicando, porque tem uma subjetividade envolvida... mas pra mim, cada acontecimento é uma nova forma de olhar para as coisas, uma nova forma de sentir, o que com certeza irá influenciar no trabalho artístico.

o que acontece, é que tem gente que se preocupa com fatos passageiros, como o preço de uma tela, descrições minusciosas da vida pessoal ou qualquer outra coisa que dê uma boa manchete de jornal. isso sim eu acho que não têm importância.

devemos estar atentos para ouvir e aprender a ouvir o que dizem essas obras. e apesar dessa nova autonomia que a obra ganha, essa possibilidade de inúmeras interpretações, a relativização e tal, aquilo foi feito por alguém e na nossa cultura isso tem valor, como podemos ver no comentário da ana (ato).

eu acho que na arte existe um momento em que as coisas precisam ser feitas. um dia, alguém teria que radicalizar e ironizar o mercado de arte, duchamp estava lá, poderia ter sido qualquer outra pessoa, mas foi ele. claro que ele é um entre muitos, que talvez nós jamais ouviremos os nomes... algumas coisas se perdem na história da arte. e como nós temos aprendido, uma das atuações do historiador pode ser o resgate dessas perdas. eu acho bem interessante ver o que está acontecendo agora, eu acho bacana experimentar essa história que se está fazendo agora e que mais tarde estará nos livros. aproveitar isso, entende? o foda é que é muita coisa pra acompanhar... e ainda estudar séculos de história da arte! mas pensar nessas questões do hoje, como você sempre tem feito agnaldo, isso é ótimo! tudo bem que você faz isso sempre olhando para trás, mas de qualquer forma, são boas instigações para nós!

quanto à crítica, que você falou brevemente no fim do texto, eu acho que a gente está passando por um momento de revalorização do crítico, do curador... desde que entrei na faculdade, tenho percebido que esses papéis têm sido SIM alvo das discussões e que existe SIM uma nova leva de jovens atuando nessas áreas. o que prova que também são importantes.

ufa! como escrevi!
saudades dessas discussões!

Lu disse...

Prefiro acreditar que SIM, é possível estabelecer um fio condutor pelo qual se liga a arte do nosso tempo. Esse fio está acima de categorias artísticas, de técnicas utilizadas. As vidas que produzem a arte hoje vivem num mesmo mundo. Não podem estar nem serem desconectadas. Elas apenas se voltam para diferentes direções.

Felipe Abdala disse...

Lu, reluto a pensar num fio condutor. Essas vidas estão sim conectadas, assim como suas produções. Concordo, claro.
Mas num penso num ÚNICO fio, mas sim em MÚLTIPLOS fios. A imagem que se forma na minha cabeça é de uma teia repleta de nós onde se estabelecem as conexões, e não de uma linha contínua.
É tudo confluência: o passado no futuro, o futuro no passado. Tudo passando pelo presente, tudo formando o presente e sendo formado por ele. O presente é a síntese, a média aritmética, entre aquilo que já foi e o que está por vir.

Anônimo disse...

ah, esqueci de falar uma coisa importante:

também sinto falta de um movimento, de coletivos, de trabalho em conjunto.

sei até que acaba acontecendo por ai... mas é dificil ver com definição quando tem tanta informação ao redor...


acho que todos esses escritos e reflexões bloguisticos já são um começo, um pensar sobre rumos, caminhos, conexões e encontros.

qualquer dia a gente escreve um manifesto. ;)

Anônimo disse...

ah, eu penso sempre em múltiplos fios... talvez seja o que me interessa tanto nos postes de luz. que além da estética que me agrada, se tratam dessas ligações, conexões intermináveis... como uma teia, ou um bordado.

quanto a questão de um movimento, um manifesto... ainda fico um pouco incerta quanto a isso. não acho que com tanta multiplicidade, ainda hajam movimentos como estudamos na história da arte. acredito muito mais em pequenos movimentos, coletivos, algumas idéias, mas nada que tenha um destaque maior, algo que aponte um caminho...

poderíamos marcar um dia pra discutir assim pessoalmente, que tal, hein? tá na hora da gente se mover, não acham?

Anônimo disse...

2 votos para o sim.


(múltiplos fios e discussão ao vivo)

Felipe Abdala disse...

3 votos entao.

Lu disse...

simmm os múltiplos fios existem, quem falou q não?? rs
mas ainda acho q o tal condutor esteja acima de tdos eles.
que a multiplicidade não existe apenas por existir e para complicar a vida das cabeças pensantes. ela existe porque obedece a um propósito (que todos nós gostaríamos de saber...) e assunto encerrado pq daqui a pouco vou viajar aqui na teoria do microcosmo... rs brincadeira...

Lu disse...

ah e o cafofo aqui tá aberto pras discussões... podíamos fazer um verdadeiro simpósio, (regado a vinho) para discutirmos o assunto!!!

Felipe Abdala disse...

Vinho? Depois do CCBB é só prosecco.

Anônimo disse...

ahhahahaha



minha casa tbm esta disponivel, só me comunicarem a data e me pedirem pra reservar a geladeira pro proseco.

Anônimo disse...

gente, vamos marcar mesmo!
na casa da lu tá ótimo, até porque a maioria já sabe chegar... hehe
apesar que a da ana não é tão longe.

vamos marcar próximo fim de semana?
pode ser também em dia de semana horário de aula, assim o agnaldo e o bira vão! =)

beijos!

Anônimo disse...

e-mail everybody!



as aulas vão voltar agorinha?
aiai!
não to sabendo das coisas direito, cada um diz uma coisa!

Valquíria disse...

voto pelas discussões na casa da Lu.